Livros & HQ

A respeito dos Hobbits


O dia 25 de março é um dia muito importante para nós nerds. Essa data marca a destruição do Um Anel e a libertação da Terra média da tirania do Senhor do Escuro.

A jornada de Frodo e Sam tem me acompanhado desde muitos anos atrás, quando a minha vida foi mudada pela primeira leitura de O Senhor dos Anéis. A experiência de ler esse livro é única; de cara fui envolvido pela história e temi sinceramente pelo futuro da Terra Média. Reler o livro é uma experiência ainda mais incrível, pois ela te dá a perspectiva e o distanciamento para apreciar pequenas gemas dentro do texto que podem ser ignoradas à primeira leitura.

Uso como exemplo o meu trecho favorito do livro, em O Retorno do Rei. Não é uma luta épica, não é um confrontamento do bem contra o mal:

Gandalf não se mexeu. E naquele exato momento, em algum pátio distante da Cidade, um galo cantou. Cantou num tom estridente e cristalino, sem se importar com feitiçaria ou guerra, apenas saudando a manhã que no céu, acima das sombras da morte, chegava com a aurora.

E como em resposta veio de longe uma outra nota. Trombetas, trombetas, trombetas. Ecoaram fracas nas encostas escuras do Mindolluin. Grandes trombetas do norte, num clangor alucinado. Rohan finalmente chegara.

O significado desse trecho dentro do contexto geral de O Senhor dos Anéis é incrível, pois ele mostra que toda a maldade e o terror impostos por Sauron têm o fim saudado da forma mais singela: o cantar de um galo saudando o nascer do Sol após o “dia sem aurora”, que marcou o cerco de Minas Tirith.

O excesso descritivo de Tolkien, tão criticado por uns, só mostra o quanto o livro deve ser saboreado ao invés de simplesmente devorado. Gosto de destacar um trecho de As Duas Torres, quando o Professor descreve uma ponte que leva até Minas Morgul:

Assim chegaram lentamente à ponte branca. Ali a estrada, reluzindo desmaiada, passava por sobre o rio em meio ao vale e continuava, subindo em curvas, na direção do portão da cidade: uma boca negra que se abria no círculo exterior das muralhas ao norte. Amplos planos jaziam nas duas margens, prados sombrios cobertos de pálidas flores brancas. Eram também luminosas, belas e apesar disso tinham formatos horrorosos, como as formas dementes de um sonho ruim; exalavam um fraco odor, sepulcral e nauseabundo: um cheiro podre enchia o ar. De um prado a outro a ponte saltava. Viam-se figuras na cabeceira, esculpidas habilmente representando formas humanas e animais, mas todas deformadas e abomináveis. A água que corria embaixo era silenciosa, e dela subia um vapor, mas essa névoa, enrolando-se e girando em volta da ponte, era fria como a morte.

Independentemente se gostam de Tolkien ou não, se gostam de fantasia ou não, neste dia 25 de março lembrem que, há muito tempo atrás, fomos salvos não pelo filho de uma divindade, mas por dois singelos Hobbits que venceram o medo, o terror e a morte e fizeram o impossível: simplesmente caminharam até Mordor.

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