[Nota do Autor: o dia 05 de Abril é tido como uma data muito importante para os fãs de Star Trek. É neste dia que, segundo o cânone, Zefram Cochrane realizou o primeiro vôo em Dobra Espacial e, em função deste vôo, o Primeiro Contato humano com uma raça alienígena. No mundo de Star Trek, tornou-se este dia um feriado mundial, comemorado também em outros planetas, pela importância que este contato teve para toda a galáxia.]
Nós viemos para cá seguindo ele. Seu gênio e sua visão de futuro eram sem paralelos, e nós o seguimos. Um homem altivo, seu rosto já marcado pelas décadas e pela guerra, mas seu olhar ainda queimava e brilhava mais do que qualquer estrela no céu. Sua paixão pela ciência e a certeza do que poderíamos realizar juntos eram contagiantes, e nós o seguimos. Seu nome? Zefram Cochrane.
Foi sendo um sonhador que o conheci, ainda no tempo em que eu era um engenheiro recém formado e ele já era um membro senior em nosso contrato com o governo. Apesar de trabalharmos com pesquisa armamental durante a Terceira Grande Guerra, Zee sempre deu um jeito de atrasar os resultados o máximo que podia, ou até mesmo dar uma direção de “fracasso após legítima tentativa” para tais projetos. Certa vez ele me disse: se deixarmos o poder da anti-matéria nas mãos dos militares, não restará um planeta para salvar. Foi nesse momento que me juntei ao seu grupo de “revolucionários”.
Com o fim da Guerra em 2053, nós o seguimos até Bozeman, onde ele acreditava existir uma antiga base com um cilo e um míssil balístico que poderíamos converter em uma cápsula adequada para testar sua grande criação. Usando meus conhecimentos em base de dados do governo, dei um jeito para que a base fosse “perdida” nos registros dos militares, e assim nascia oficialmente nosso projeto. Assim nascia a Phoenix.
Mas naquela madrugada Zee estava particularmente arrasado. Parecia ter perdido totalmente as esperanças de fazer a Phoenix voar. O bombardeio da noite passada danificara os sistemas da cápsula e agora não conseguíamos encontrar Lily. Alguns dos nossos colegas estavam feridos, e outros haviam perecido. O clima estava pesado, e não sabíamos nem por onde começar a organizar as coisas.
Mas então Zee voltou com um grupo de estranhos, desconhecidos, mas que pareciam conhecer muito bem o projeto. Talvez fossem algum contato antigo dos tempos de trabalho para os militares. Imagino que fossem militares mesmo, pois um deles era frequentemente chamado de “Comandante” pelos demais. Eles vieram com várias ideias mirabolantes, que poderiam de fato colocar a Phoenix no ar antes do meio-dia. E, trabalhando sem parar a noite inteira, assim o fizeram.
Precisamente às 11 da manhã do dia 5 de Abril de 2063, a terra tremeu com o lançamento de nosso grande experimento. A Phoenix alçava voo, rumo à história. Acompanhávamos extasiados através da telemetria, enquanto o grande Zefram Cochrane levava a humanidade às estrelas. A Phoenix atingiu velocidade crítica e então desapareceu da telemetria.
Sem qualquer resposta, inicialmente achamos que algo havia dado errado e que a nave havia explodido. Começamos a nos agitar na base, engenheiros gritando números e leituras, todos confusos e tentando achar algum sinal da nave, mas não um dos novos engenheiros. Ele estava com um amplo sorriso no rosto, quase infantil. Era como uma criança.
Então como uma explosão a telemetria começou a responder novamente. Dados chegavam em todos os canais, e mal podíamos acreditar no que estávamos vendo: Zefram Cochrane havia conseguido. O filho da mãe havia conseguido! Dobra espacial!
Foram algumas horas de muita confusão, gente falando e calculando e muitas vezes dizendo “quase não dá para acreditar”, mas era tudo verdade. Quando Zee finalmente pousou e retornou para a base, estávamos todos eufóricos! Mas não ele. Não Zefram Cochrane.
Enquanto entrava no centro de comando, recebendo os cumprimentos da equipe, Zee parecia calmo, com um sorriso no rosto e uma paz que somente um homem que sabe que cumpriu sua missão na vida tem. Já era noite, ele estava conversando com os seus amigos militares. Lily estava de volta, sem dar detalhes de onde estivera, mas isso não importava mais, principalmente quando começamos a ouvir um leve tremor vindo dos céus, e as nuvens se iluminaram.
Uma luz forte iluminou toda a base e a floresta ao seu redor. Corremos para ver o que era, e lá estava. Uma espécie de nave pousava lentamente na clareira em frente aos alojamentos. De cor avermelhada e com uma configuração completamente diferente de tudo que já havíamos visto. Estávamos todos atônitos enquanto assistíamos a nave pousar, lentamente abrir uma porta e estender uma rampa.
Alguns começaram a sussurrar que deveria ser uma nave do governo, algo secreto, que detectou nosso teste e veio averiguar, que estaríamos todos presos em breve, mas algo dentro de mim sabia que aquilo era outra coisa. Aquele momento era especial. Algo que entraria para os livros de história.
Quando o ocupante da nave começou a sair, todos ficaram apreensivos. Aquela figura, usando uma espécie de manto, com um capuz cobrindo sua cabeça… Com certeza não era ninguém do governo. Todos estavam assustados, mas Zee tomou a frente e aproximou-se do estranho visitante. Quando o estranho retirou seu capuz e exibiu melhor suas feições, eu não podia acreditar!
Apesar de suas feições quase humanas, haviam diferenças suficientes para que não restasse qualquer dúvida. Se a nave espacial “estacionada” na nossa frente não fosse prova suficiente, o visual desse estranho seria o necessário para termos certeza do que estávamos testemunhando.
Enquanto o estranho levantou sua mão em um cumprimento e disse as palavras (em perfeito inglês) “vida longa e próspera”, Zee estendeu-lhe a mão em retribuição, dando-lhe um cordial e emblemático aperto de mão, mais humano impossível, e agradecia-lhe com um simples “obrigado”. Naquele momento eu sabia que estava testemunhando a história pela segunda vez naquele dia. Naquele momento eu sabia que estava vendo Zefram Cochrane se tornar o primeiro homem a ter contato com uma raça alienígena.
Naquela noite uma nave do planeta Vulcan estava passando pelo nosso sistema solar, sem tomar grande interesse pela civilização primitiva que habitava o planeta Terra, quando detectou a assinatura de dobra da Phoenix. Seguindo seus próprios protocolos relacionados ao Primeiro Contato, os Vulcanos seguiram a nave de volta e se apresentaram para nós. Queriam conhecer o homem que havia construído aquela nave. Queriam conhecer Zefram Cochrane.
Todo o resto está nos livros de história. Zee deu início a um período que levou a humanidade a se unir. A perspectiva de que não estávamos mais sós no universo, mas éramos na verdade apenas mais uma raça em um vasto cosmos, acabou com as disputas internas, com as guerras, colocou uma nova maneira de ver as coisas nos nossos olhos. Com o tempo os governos da Terra se uniram em um único governo, fome, doenças e miséria foram erradicados, tudo porque um homem ousou sonhar com um mundo melhor.
A partir daquele simples aperto de mão, a humanidade passou a fazer parte de um futuro muito melhor. Assumimos nosso lugar entre as grandes civilizações da galáxia, e falando aqui para vocês hoje, neste dia tão importante, fico orgulhoso de ter sido parte dessa história. Entendam a importância desse momento, meus jovens. E entendam a responsabilidade que vocês também têm, ao levar adiante esse sonho. Agora o destino da humanidade está nas suas mãos, e o sonho a ser realizado será o seu. Sonhem. Sonhem sempre. Sonhem alto. Vale a pena.
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