Cinema

Crítica: Godzilla (2014)


godzilla-2014-poster-032014Antes de falar sobre Godzilla, acho importante estabelecer regras básicas, seja sobre mim, seja sobre a crítica em si.

Primeiro de tudo, não gosto dessa nova onda de filmes nerd. Vingadores, Transformers, Homem de Ferro, O Hobbit, Thor, 300 & cia. simplesmente não me emocionam. Ok, gostei do Cavaleiro das Trevas, mas ei, quem não gostou de Cavaleiro das Trevas?

Segundo, esta crítica contém spoilers. Sim, a palavra feia e suja que começa com S. Se vou falar sobre um filme, significa que vou falar DO filme.

Isso tudo posto, vamos lá.

Godzilla é um filme irregular, com elementos empolgantes e outros diametralmente opostos, de dar sono. O começo do filme é bastante emocionante, mostrando a dinâmica entre Joe Brody (Cranston) e Sandra (Binoche) muito bem trabalhada. Com um minuto de cena, se pode imaginar todo um background para o casal, de intimidades, conquistas e todos os aspectos de uma vida em conjunto e com um filho criança, e tudo isso é potencializado pela morte de Sandra em um acidente na usina em que trabalham. Depois, somos arrastados para a vida chata e mal desenvolvida de Ford (Johnson), filho do casal.

Enquanto a dinâmica da primeira família é espontânea e sentimental, a da segunda é frágil, fraca e desnecessária. Durante todo o filme, a esposa e filho de Ford não cumprem função alguma além da óbvia pessoalização da busca do protagonista. Aliás, o filme busca o tempo inteiro essa pessoalização ao colocar, sempre de forma forçada, uma criança em perigo para que Ford a salve e lembre de seu filho, de quem está separado por três monstros do tamanho de prédios.

As escolhas do roteiro, no que diz respeito à parcela humana do filme, são sempre as piores possíveis, dentre as quais destaco a morte prematura de Joe Brody, o personagem mais indicado para ser o protagonista da trama. Imagino um filme muito mais interessante se fosse focado em Joe, que possibilitaria uma dinâmica proveitosa junto com o Dr. Ichiro Serizawa (Watanabe) e o Almirante William Stenz (Strathairn), deixando a parcela operacional-militarista delegada a coadjuvantes redshirts.

Aliás, a incompetência dos militares no filme chega a ser cômica em alguns momentos. Em dois momentos eles chegam a bases secretas no meio de desertos só para serem surpreendidos com um enorme buraco no chão por onde “a coisa que estava lá e não está mais” saiu. Fico pensando se no caminho para lá os helicópteros (ou até mesmo radares ou o sistema de segurança do local) não detectaram que havia um túnel de 50 metros de diâmetro saindo de dentro da base para a rua?

GODZILLA

O outro ponto do filme, este sim bem trabalhado e sempre interessante, envolve os monstros. Godzilla é trabalhado de uma forma semelhante ao grande tubarão branco que aterrorizou Amity Island em Tubarão: ele se mantém oculto praticamente o filme todo, apenas com pequenas partes dele sendo exibidas de relance. Isso até a revelação final, quando se ergue para enfrentar os dois M.U.T.O.s, aí sim, exibindo-se em toda a sua escala e magnitude e arrancando aplausos da plateia. É interessante que, nos trechos que envolvem a luta entre os monstros, o filme como um todo é muito melhor. A trilha sonora em geral obedece ao padrão de um filme de ação, exceto em um momento: quando Godzilla e o M.U.T.O. fêmea se encaram por alguns segundos antes de partir para o combate. Nesse ponto, a trilha muda, passando a ter nuances orientais, como se não fossem dois monstros prontos para destruir uma cidade, mas sim como dois samurai prontos para desembainhar seus katanás em uma luta de vida ou morte.

No fim das contas, o diretor fracassa ao tentar fazer um filme sobre as pessoas, mas que acaba sendo sobre a luta entre os monstros.

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